Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado nesta quarta-feira (28), mostra que 8,6% dos estudantes do ensino médio matriculados nas escolas da rede pública pertencem a famílias com renda per capita na faixa dos 20% mais ricos do país. O índice é maior que o dobro da situação inversa: só 3,8% dos estudantes de famílias pobres estudam em escolas particulares. Na rede privada, 52,3% dos estudantes pertencem à faixa de renda mais rica.
Os dados integram a "Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012", elaborada pelo IBGE. A base de dados do estudo foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referente a 2011.
A síntese dividiu a população em cinco faixas de renda per capita. De acordo com os dados, no ensino médio da rede pública a distribuição é parecida nas quatro faixas de renda mais baixas: 22,4% na primeira; 26,7% na segunda; 23,1% na terceira; 19,2% na quarta, e 8,6% na quinta, das famílias mais ricas. A rede pública reúne 87% dos estudantes matriculados no ensino fundamental e no ensino médio.
Na rede particular do ensino médio, 3,8% são da primeira faixa, dos mais pobres; 7,5% pertencem a famílias da segunda faixa; 13,4% estão na faixa intermediária; 22% na quarta, e 53,2% dos estudantes estão na quinta, a faixa das famílias mais ricas. A rede particular atende 13% do total de estudantes matriculados no ensino fundamental e no ensino médio.
Da particular para a pública
O bom desempenho de estudantes de escolas públicas federais, técnicas e militares em exames como o Enem e vestibulares também atrai famílias com melhor condição financeira. Há cerca de dois anos, a estudante Ana Luiza de Deus Mendonça, de 17 anos, trocou um colégio particular da Região Nordeste de Belo Horizonte pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), onde, segundo ela, encontrou um melhor preparo para a “vida adulta”, com o curso técnico de edificações.
Para Ana Luiza, faltava “alguma coisa” no colégio em que estudava. “Era muito dependente. Não dependia só de mim para as coisas acontecerem. Tinha sempre uma terceira pessoa para as coisas acontecerem no colégio. Se tivesse alguma reclamação, só a minha fala não servia. E eu acho que é assim em todo colégio particular”, disse.
A estudante do 2º ano do ensino médio contou que, do outro colégio, ficou somente a saudade das amigas. “Eu tenho tudo aqui, é só ir atrás.”
Para ela, a primeira impressão do Cefet foi “um choque”. “É completamente diferente. As pessoas, a mistura das pessoas. Cada uma das minhas amigas mora em uma cidade. Todo mundo muito diferente, o que acrescenta muito. Se conhece gente de tudo quanto é jeito. E o ensino é bem puxado. Acho que eu cresci mais aqui. Estou mais bem preparada para o mundo”, afirmou a estudante.
Vestibulinho
Raíssa Simonetti de Oliveira, de 18 anos, que mora no bairro Jardim dos Comerciários, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, está finalizando o 3º ano do ensino médio no Colégio Militar de Belo Horizonte e é um exemplo de dedicação aos estudos. Filha de professores, a jovem tem média 9,5 pontos em todas as 11 matérias que cursou neste ano.
Mesmo tendo condições financeiras e estando em escola particular, Raíssa, por escolha própria, preferiu ir para o colégio público e fez o concurso seletivo para ingressar na instituição. Ela disse que já conhecia o colégio porque a irmã já estudada nele.
Para conquistar a vaga, Raíssa fez um extensivo de março a dezembro e, além do Colégio Militar, conseguiu passar no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) e no Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec-UFMG).
E tanta dedicação aos estudos já rende resultados à jovem. Em 2011, quando cursava o 2º anos, ela conseguiu as melhores notas da classe e, por causa disso, conquistou o título de coronel-aluna, uma espécie de patente para valorizar e reconhecer o esforço dos alunos.
Para a mãe de Raíssa, Ana Maria Simonetti de Oliveira, de 45 anos, a seleção para entrar no colégio, a rigidez e a disciplina cobradas ajudam a manter a qualidade do ensino. “A formação dos professores e a qualificação deles contribuem como um todo para manter a estrutura do colégio”, opinou Ana Maria.
'Quero que meu filho brinque mais'
No ensino fundamental, também da rede pública, 38% dos estudantes têm a menor faixa de renda familiar; 28,3% estão na segunda faixa; 18,2% estão na faixa intermediária; 11% estão na quarta faixa; e 4,5% dos estudantes são de famílias ricas.
A analista de mídias sociais Débora Domingues, de 30 anos, diz ter todas as condições de pagar uma boa escola particular para o filho João Pedro, de 4 anos. No entanto, ela matriculou o menino na Escola Municipal Manuel Bandeira, em Francisco Morato, na Grande São Paulo, onde mora. "Escola paga faz muita distinção de alunos, tem computador para criança pequena e ensinam coisas próprias para aquela faixa social. Se a criança vai brincar com um amigo que não está em escola paga acha estranho", avalia.
Débora diz que está gostando do comportamento do filho na pré-escola pública e que poderá mantê-lo no colégio quando João Pedro começar o ensino fundamental. "Acho importante que ele possa ter contato com as crianças mais carentes, brincar no chão com giz de cera, e não ter tantas obrigações e horários. Vejo crianças de quatro a seis anos que parecem adolescentes."
No ensino fundamental, de acordo com a pesquisa, a maioria dos alunos da rede particular está entre os mais ricos. A distribuição, segundo o estudo, é assim: 6,4% entre os mais pobres; 13,3% na segunda faixa; 16% na faixa intermediária; 21,7% na quarta faixa; e 42,6% entre os mais ricos.
Desigualdade
De acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil é um dos 26 países analisados com maior desigualdade de desempenho entre o ensino público e o privado, ficando atrás apenas do Catar, Quirguistão e Panamá. As diferenças na condição socioeconômica dos alunos são os principais determinantes da variação de desempenho, segundo o levantamento.
A desigualdade entre os alunos dependendo da rede de ensino cursada aparece também nos resultados do Indíce de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011. O Ideb, para as redes pública e particular, respectivamente, teve as seguintes notas: 4,7 e 6,5 nos anos iniciais do ensino fundamental; 3,9 e 6,0 nos anos finais do ensino fundamental; e 3,4 e 5,7 no ensino médio.
*Com reportagem de Pedro Cunha e Alex Araújo, do G1 MG, Vanessa Fajardo e Paulo Guilherme, do G1 em São Paulo
Os dados integram a "Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012", elaborada pelo IBGE. A base de dados do estudo foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referente a 2011.
A síntese dividiu a população em cinco faixas de renda per capita. De acordo com os dados, no ensino médio da rede pública a distribuição é parecida nas quatro faixas de renda mais baixas: 22,4% na primeira; 26,7% na segunda; 23,1% na terceira; 19,2% na quarta, e 8,6% na quinta, das famílias mais ricas. A rede pública reúne 87% dos estudantes matriculados no ensino fundamental e no ensino médio.
Na rede particular do ensino médio, 3,8% são da primeira faixa, dos mais pobres; 7,5% pertencem a famílias da segunda faixa; 13,4% estão na faixa intermediária; 22% na quarta, e 53,2% dos estudantes estão na quinta, a faixa das famílias mais ricas. A rede particular atende 13% do total de estudantes matriculados no ensino fundamental e no ensino médio.
Da particular para a pública
O bom desempenho de estudantes de escolas públicas federais, técnicas e militares em exames como o Enem e vestibulares também atrai famílias com melhor condição financeira. Há cerca de dois anos, a estudante Ana Luiza de Deus Mendonça, de 17 anos, trocou um colégio particular da Região Nordeste de Belo Horizonte pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), onde, segundo ela, encontrou um melhor preparo para a “vida adulta”, com o curso técnico de edificações.
Para Ana Luiza, faltava “alguma coisa” no colégio em que estudava. “Era muito dependente. Não dependia só de mim para as coisas acontecerem. Tinha sempre uma terceira pessoa para as coisas acontecerem no colégio. Se tivesse alguma reclamação, só a minha fala não servia. E eu acho que é assim em todo colégio particular”, disse.
A estudante do 2º ano do ensino médio contou que, do outro colégio, ficou somente a saudade das amigas. “Eu tenho tudo aqui, é só ir atrás.”
Para ela, a primeira impressão do Cefet foi “um choque”. “É completamente diferente. As pessoas, a mistura das pessoas. Cada uma das minhas amigas mora em uma cidade. Todo mundo muito diferente, o que acrescenta muito. Se conhece gente de tudo quanto é jeito. E o ensino é bem puxado. Acho que eu cresci mais aqui. Estou mais bem preparada para o mundo”, afirmou a estudante.
Vestibulinho
Raíssa Simonetti de Oliveira, de 18 anos, que mora no bairro Jardim dos Comerciários, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte, está finalizando o 3º ano do ensino médio no Colégio Militar de Belo Horizonte e é um exemplo de dedicação aos estudos. Filha de professores, a jovem tem média 9,5 pontos em todas as 11 matérias que cursou neste ano.
Mesmo tendo condições financeiras e estando em escola particular, Raíssa, por escolha própria, preferiu ir para o colégio público e fez o concurso seletivo para ingressar na instituição. Ela disse que já conhecia o colégio porque a irmã já estudada nele.
Para conquistar a vaga, Raíssa fez um extensivo de março a dezembro e, além do Colégio Militar, conseguiu passar no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) e no Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (Coltec-UFMG).
E tanta dedicação aos estudos já rende resultados à jovem. Em 2011, quando cursava o 2º anos, ela conseguiu as melhores notas da classe e, por causa disso, conquistou o título de coronel-aluna, uma espécie de patente para valorizar e reconhecer o esforço dos alunos.
Para a mãe de Raíssa, Ana Maria Simonetti de Oliveira, de 45 anos, a seleção para entrar no colégio, a rigidez e a disciplina cobradas ajudam a manter a qualidade do ensino. “A formação dos professores e a qualificação deles contribuem como um todo para manter a estrutura do colégio”, opinou Ana Maria.
'Quero que meu filho brinque mais'
No ensino fundamental, também da rede pública, 38% dos estudantes têm a menor faixa de renda familiar; 28,3% estão na segunda faixa; 18,2% estão na faixa intermediária; 11% estão na quarta faixa; e 4,5% dos estudantes são de famílias ricas.
A analista de mídias sociais Débora Domingues, de 30 anos, diz ter todas as condições de pagar uma boa escola particular para o filho João Pedro, de 4 anos. No entanto, ela matriculou o menino na Escola Municipal Manuel Bandeira, em Francisco Morato, na Grande São Paulo, onde mora. "Escola paga faz muita distinção de alunos, tem computador para criança pequena e ensinam coisas próprias para aquela faixa social. Se a criança vai brincar com um amigo que não está em escola paga acha estranho", avalia.
Débora diz que está gostando do comportamento do filho na pré-escola pública e que poderá mantê-lo no colégio quando João Pedro começar o ensino fundamental. "Acho importante que ele possa ter contato com as crianças mais carentes, brincar no chão com giz de cera, e não ter tantas obrigações e horários. Vejo crianças de quatro a seis anos que parecem adolescentes."
No ensino fundamental, de acordo com a pesquisa, a maioria dos alunos da rede particular está entre os mais ricos. A distribuição, segundo o estudo, é assim: 6,4% entre os mais pobres; 13,3% na segunda faixa; 16% na faixa intermediária; 21,7% na quarta faixa; e 42,6% entre os mais ricos.
Desigualdade
De acordo com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o Brasil é um dos 26 países analisados com maior desigualdade de desempenho entre o ensino público e o privado, ficando atrás apenas do Catar, Quirguistão e Panamá. As diferenças na condição socioeconômica dos alunos são os principais determinantes da variação de desempenho, segundo o levantamento.
A desigualdade entre os alunos dependendo da rede de ensino cursada aparece também nos resultados do Indíce de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011. O Ideb, para as redes pública e particular, respectivamente, teve as seguintes notas: 4,7 e 6,5 nos anos iniciais do ensino fundamental; 3,9 e 6,0 nos anos finais do ensino fundamental; e 3,4 e 5,7 no ensino médio.
*Com reportagem de Pedro Cunha e Alex Araújo, do G1 MG, Vanessa Fajardo e Paulo Guilherme, do G1 em São Paulo