segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ação afirmativa privilegia ensino público e não raça (Danuza Peixoto)

DE SÃO PAULO

Sete em cada dez universidades públicas já adotam algum critério de ação afirmativa, segundo levantamento feito em 98 instituições federais ou estaduais, informa reportagem de Antônio Gois, publicada nesta segunda-feira pela Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).

Mesmo sem nenhuma lei federal que as obrigue, 70 dessas universidades têm programa de cota ou bônus no vestibular para alunos de escolas públicas, negros, índios e outros grupos.

O estudo, feito por instituto ligado à UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mostra que alunos da rede pública são os mais beneficiados e que cotas são mais utilizadas do que bônus.

Entre as universidades que dispõem de cotas raciais (a pesquisa não inclui faculdades ou centros), o critério é, em 85% dos casos, a autodeclaração.

Nas instituições cujo processo seletivo beneficia os negros, vigoram mecanismos para evitar que as vagas sejam ocupadas pelos egressos de maior renda.

O assunto divide os especialistas. Parte defende uma lei federal para regular critérios de inclusão ainda tímidos. Para outros, seria um desrespeito à autonomia universitária.

Leia a reportagem completa na Folha desta segunda-feira, que já está nas bancas.

domingo, 29 de agosto de 2010

Quase 10% dos estudantes do 9º ano da rede privada sofrem de obesidade, diz estudo (Danuza Peixoto)

Isabela Vieira
Da Agência Brasil
No Rio de Janeiro
Os alunos das escolas particulares estão mais gordinhos que os demais, mostra a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada hoje (27), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Realizada em 2009, a pesquisa avaliou o perfil nutricional de cerca de 60 mil estudantes do 9º ano do ensino fundamental nas capitais e no Distrito Federal. O levantamento detectou, como principal problema, o crescente excesso de peso entre os estudantes, fator de risco para saúde.

De acordo com o estudo, a prevalência de obesos nas escolas privadas é de 9,9%. Nas públicas, esse percentual é de 6,5%. Segundo a pesquisa, 23,2% dos estudantes estão com excesso de peso dos quais 7,2% sofrem de obesidade. O sobrepeso é maior em Porto Alegre (RS) e no Rio de Janeiro (RJ) onde as taxas são de 20,1% e 18,3%, respectivamente. Em Palmas (TO), o índice foi o menor, de 10,9%.

Por outro lado, também ficou constatado déficit de peso em 2,9% da amostra. O problema aparece com maior frequência em Salvador, atingindo 4,4% dos estudantes pesquisados e 1,1% das crianças entrevistadas em Porto Alegre. A maior parte dos estudantes (74%) foi considerada saudável.

Em relação ao tipo de estabelecimento, os estudantes abaixo do peso ideal foram identificados nas escolas públicas. Principalmente, nas de São Luís (MA) cuja taxa de baixo peso foi de 4,5%.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

UFRJ: professor defende inclusão do critério racial em cotas (D. Peixoto)

A inclusão do critério racial nas ações afirmativas para ingresso na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) voltará a ser defendida hoje (19) pelo professor do Departamento de Economia e membro do Conselho Universitário Marcelo Paixão. Ele participará da reunião na qual será definido o perfil do estudante cotista da universidade.

Histórico defensor das cotas raciais para pretos e pardos (que juntos somam mais de 50% da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Marcelo Paixão avalia que a aprovação da medida é improvável. Mas argumenta que a reunião será um espaço para discutir as barreiras sociais que dificultam o processo de aprendizagem dos negros.

"A proposta é decorrente da constatação de que os alunos negros que estudam no segundo grau da rede pública convivem com barreiras específicas ao seu processo educacional não apenas decorrente da situação social precária, mas também de práticas sociais escolares hostis à presença de pessoas negras", afirmou.

O professor, que representa o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas no Conselho Universitário (Consuni), avalia que a adoção de ações afirmativas pela UFRJ já será um grande avanço. Como a medida será colocada em prática no próximo vestibular, para ingresso em 2011, de maneira experimental, ele acredita que caberá mais avaliações sobre ela ao longo do ano.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRJ apoia a proposta do professor Marcelo Paixão e defende o fim da "meritocracia" para entrada na universidade. Os representantes dos estudantes chamam a atenção para os processos de exclusão social que influenciam negativamente o processo de aprendizado de alguns estudantes.

"Para a sociedade em geral, o aluno deve merecer entrar na universidade. Esse debate ignora que o desempenho acadêmico, intelectual, não é um produto individual, que em função das desigualdades sociais precisa ser relativizado", afirmou o diretor de Cultura do DCE, Kenzo Soares.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Governo de SP suspende gratificação a alunos de reforço (Danuza Peixoto)

A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo decidiu adiar a implantação do projeto Multiplicando o Saber, que previa pagamento de R$ 50 e R$ 115, respectivamente, a alunos da rede pública de ensino que fizessem e dessem aulas de reforço de matemática.

Segundo a assessoria de imprensa da pasta, a entrega do benefício foi adiada temporariamente porque o projeto "gerou certa polêmica". Uma reunião está marcada para esta tarde para que o projeto seja revisto.

O programa é um projeto-piloto da Secretaria em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Organizações Não-Governamentais, professores da Universidade de São Paulo (USP), e pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE).

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SP pagará R$ 50 a aluno que fizer reforço de matemática (Danuza Peixoto)

São Paulo
O governo de São Paulo vai pagar vale-presente de R$ 50 a estudantes que frequentarem aulas de reforço de matemática. O programa prevê que alunos dos 2º e 3º anos do Ensino Médio com bom desempenho na matéria recebam bolsa auxílio para ser tutores de alunos dos 6º e 7º anos do Ensino Fundamental. Aos tutores será oferecida uma bolsa mensal de R$ 115 pelos três meses de duração do programa.

A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Secretaria de Estado da Educação, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), professores da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadores da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O investimento total no programa será de US$ 663 mil, sendo US$ 130 mil da secretaria, US$ 200 mil do BID e US$ 333 mil de parceiros

A secretaria informou que 441 escolas da rede em 70 municípios do interior e da Grande São Paulo participarão do programa. As sessões de estudo terão duração de 90 minutos e acontecerão duas vezes por semana, durante 12 semanas, entre os dias 1º de setembro e 23 de novembro. No dia 19 de agosto, será divulgado no site do Multiplicando Saber (www.multiplicandosaber.org.br) as escolas e os alunos que serão beneficiados pelo programa.

A estimativa do governo é atingir a meta de 35 estudantes inscritos por escola do Ensino Fundamental e 15 tutores por escola do Ensino Médio. O professor coordenador também receberá um vale-presente de até R$ 50, de acordo com o número de alunos inscritos em sua escola (quanto mais próximo da meta, maior o valor), e outro vale-presente de até R$ 150, conforme a assiduidade dos jovens.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Veja como as universidades utilizarão o Enem em 2010 ( D. Peixoto)

Cinquenta e nove universidades federais vão utilizar a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2010 em seus processos seletivos. O destaque vai para as universidades federais que decidiram adotar o exame como única forma de ingresso. Estão nesta lista as federais de Pelotas (Ufpel) e de Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul, de São Carlos (UFSCAR) e do ABC (UFABC), em São Paulo, e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Veja aqui o mapa completo com as instituições que utilizarão o Enem como forma de acesso.

Em 2010, mais de 4,6 milhões de estudantes se inscreveram para participar do Enem. Exatamente 4.611.441 candidatos são esperados para fazer as provas nos dias 6 e 7 de novembro.

O número de inscritos em 2010 é o maior desde que o exame foi criado em 1998. O recorde anterior tinha sido registrado no ano passado, quando a prova passou a ser utilizada nos processos seletivos das universidades federais. Cerca de 4,1 milhões de estudantes se inscreveram para o exame em 2009, mas a abstenção foi superior a 30%.

O estado com mais candidatos inscritos é São Paulo: 827.818. Em seguida vêm Minas Gerais (538 mil), a Bahia (428 mil), o Rio de Janeiro (314 mil), Rio Grande do Sul (295 mil), Paraná (228,4 mil), Pernambuco (228 mil) e o Ceará (208 mil). O Sudeste e o Nordeste concentram quase 70% dos participantes.

O exame terá 180 questões de múltipla escolha e uma redação. No primeiro dia (sábado, 6 de novembro), as provas serão de ciências da natureza e humanas, cada uma com 45 questões. No domingo (7), os candidatos serão avaliados em matemática e linguagens, cada uma com 45 questões, além da redação.

Com informações da Agência Brasil

Redação Terra

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Recém-reconhecida por órgão federal, nova especialidade pode ajudar, em trabalho conjunto com o professor, no desenvolvimento da leitura e da escrita a partir de questões fonológicas (Danuza Peixoto)

Parceria do futuro


Rachel Bonino



A melhora na aprendizagem dos alunos da 4ª série da Escola Estadual Brigadeiro Faria Lima (SP), em 2009, não surpreendeu a então coordenadora pedagógica Ana Lúcia Nicolau e sua equipe de professores. Após a realização de oficina feita para desenvolver a competência narrativa das crianças, já tinha essa expectativa, refletida também no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) de 2009, em que a escola atingiu 4,68 pontos para uma meta estabelecida de 4,09. Surpresa mesmo, a coordenadora e dez professores tiveram antes do início da oficina, ao saber que havia sido elaborada por fonoaudiólogos.

Durante o ano, os docentes receberam orientações e trabalharam em conjunto com uma equipe de especialistas do Instituto Cefac, instituição clínica-educacional autônoma voltada para o atendimento e a pesquisa na área da fonoaudiologia. Nos encontros semanais com os professores, a equipe liderada pelo fonoaudiólogo Jaime Luiz Zorzi sugeriu atividades para que os docentes trabalhassem com os alunos a ideia da narrativa, as propriedades dos textos, a comparação com diversas estruturas possíveis e as diferenças entre linguagem oral e escrita. Depois de um ano, os alunos de 3ª e 4ª séries participaram de uma competição de textos.

"Não imaginei que o trabalho do fonoaudiólogo pudesse ter um enfoque pedagógico", conta Ana, que atualmente voltou a lecionar na mesma escola. "Sabíamos da importância da atuação clínica do fonoaudiólogo, mas, após a oficina, entendemos a relevância da colaboração na sala de aula."

Poucos educadores conhecem o campo de atuação do fonoaudiólogo no ambiente educacional. A imagem de profissional da área de saúde que oferece tratamento clínico para alunos com alterações de fala (gagueira, por exemplo) ainda é a única associada ao fonoaudiólogo. "A maior parte dos profissionais se apresenta para os educadores como alguém que pode detectar e tratar problemas, todos mais ligados à fala, deixando a leitura e a escrita de lado", conta Zorzi. Por esse motivo, ele não se surpreende quando professores perguntam, ao final de congressos e palestras, se é mesmo fonoaudiólogo e não educador. "Tudo isso porque meu trabalho se concentra nas questões de aprendizagem", diz.

O trabalho do fonoaudiólogo passa por um momento de transição. Em março último, a Fonoaudiologia Escolar-Educacional foi reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa), o que, na visão dos profissionais da área, é um passo importante para a formalização da atuação. Além de representar um movimento de retomada de uma função que remonta ao início da profissão, surgida a partir de demandas educacionais.

O fonoaudiólogo educacional desempenha trabalho coletivo na escola. Ao lado do professor, aluno e pais, oferece apoio no desenvolvimento de fluência e interação verbal, de linguagem e de ensino da língua portuguesa com trabalhos na alfabetização, oralidade, leitura e produção de textos escritos. Atua na educação infantil e no ensino fundamental.

Uma de suas atividades mais recorrentes em sala de aula é o de consciência fonológica para os alunos em processo de alfabetização. O contato mais próximo com as estruturas das sílabas, das palavras e dos fonemas, por meio de brincadeiras e exercícios com rimas e aliterações, por exemplo. Assim, conseguem progressos importantes de leitura, fala e escrita.

Mas em que esse trabalho difere do que é feito pelo professor em sala de aula? Os olhares para essas atividades são diferentes, explica Sílvia Colello, professora de psicologia da educação da Faculdade de Educação da USP. "No caso de um exercício envolvendo narrativas, o professor pode estudar com os alunos os gêneros e estruturas de texto, enquanto o fonoaudiólogo pensa nos caminhos para estimular a articulação ou o encadeamento lógico e fluência das palavras", exemplifica. Em comum, os dois trabalhos têm o desenvolvimento das habilidades de escrita e fala, mas com cada profissional olhando para um aspecto diferente da linguagem. "O ideal é trabalhar de forma integrada, articulada. Assim, rompe-se a lógica tradicional da escola de excesso de encaminhamentos para os consultórios para combater os problemas de aprendizagem", opina.

Parceria
"Antes era um trabalho mais focado só na criança, sem a participação do professor. Agora, as professoras desenvolveram um olhar mais aguçado, e já identificam e indicam alterações de fala nos alunos", conta a fonoaudióloga Renata Opice, que há 17 anos integra a equipe interdisciplinar da Escola Alfa, instituição particular paulistana de ensino infantil.

No início, o trabalho de fonoaudiologia na escola ficava restrito à triagem de alunos com alterações de fala. Mas, em 1996, houve uma mudança em toda a orientação pedagógica e a equipe começou a refletir sobre o trabalho de Renata, o que gerou mudanças. "A ficha fonoaudiológica e a pedagógica viraram uma só, que hoje chamamos de anamnese escolar", relembra. A partir de então, a equipe interdisciplinar inclui também a fonoaudióloga nas reuniões para atualização do plano pedagógico.

O processo de alfabetização também foi ajustado: "Apesar de a etapa visual ser tida como fundamental na alfabetização, decidimos também enfatizar o desenvolvimento auditivo no nosso processo. Ele auxilia a criança a pensar as letras e sons. Quando vai escrever, ela puxa esse repertório maior ensinado nos anos anteriores", avalia Cecília Assumpção, diretora pedagógica da Alfa.

"Detector de problemas"
A entrada de um especialista em uma escola é sempre um momento de tensão. "A equipe pode se sentir invadida com a presença do
fonoaudiólogo até pela própria tradição de falta de trabalho integrado nas instituições", analisa Silvia Colello. A esse estranhamento, soma-se o desconhecimento sobre o trabalho desse profissional no âmbito da escola. As dúvidas são muitas, a começar pelo fato de um profissional da área de saúde atuar na educação.

Para elucidar o que se pode ou não fazer, uma determinação do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) prescreve que o fonoaudiólogo não pode desenvolver trabalho terapêutico ou clínico na escola de ensino regular. Caso seja identificada uma alteração de fala, deve indicar que a criança se consulte com outro profissional, fora das dependências da escola, para um acompanhamento individual. A resolução 232, de 1999, foi a primeira que dispôs sobre a atuação do fonoaudiólogo escolar. Foi revogada e atualizada em 2005 (resolução 309). "O ambiente escolar não é um ambiente de terapia. Não era inclusivo pedir para um aluno sair da sala, em horário de aula, para fazer acompanhamento individual. Não era bom para a criança", explica Bianca Queiroga, membro do CFFa e professora da Faculdade de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A exceção fica para as instituições de ensino especial, nas quais o acompanhamento clínico pode ocorrer dentro da escola.

"A atuação tem avançado, mas ainda há problema de interpretação do trabalho deste profissional tanto pela escola quanto entre os próprios
fonoaudiólogos", alerta Bianca Queiroga. A imagem que a categoria pretende apagar o quanto antes do imaginário dos professores é de profissional que detecta problemas. Isso porque sua atuação pode ser mais rica que aquela simplesmente ligada a ações curativas.

Para tirar essa impressão, a fonoaudióloga Maria Silvia Cárnio eliminou a etapa de triagem do programa escolar que coordena com estagiários do 3º ano de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da USP. A triagem era feita apenas para o mapeamento da cena escolar em que a parceria iria acontecer. "Mas alguns professores passaram a encarar aquilo como chance de identificar os alunos 'problemáticos', e esse não era o foco", conta Maria Silvia que, desde 1989 coordena o programa. Agora, são os próprios professores que indicam os alunos com defasagem na aprendizagem a partir da convivência com o aluno em sala de aula. Só a partir daí o programa é montado. Após aplicá-lo em seis escolas públicas paulistas, o estágio batizado de Programa Escola começou, em março deste ano, na Escola Estadual Clorinda Danti, localizada na favela São Remo (zona leste da capital). O foco são os alunos das 3as séries (atuais 4os anos). O convênio entre a escola e a USP deve durar três anos. Além do programa, Maria Silvia também promove encontros semanais nas HTPCs (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo). Aí o trabalho é de consultoria e esclarecimentos e pode atender também a demandas dos próprios professores. "Já tivemos palestras sobre a utilização da voz em sala de aula e sobre dislexia", lembra a diretora Rosana de Miranda.

Na avaliação da fonoaudióloga Ana Paula Berberian, autora do livro Fonoaudiologia e educação: um encontro histórico (Ed. Plexus), a maior parte das escolas continua esperando que os fonoaudiólogos resolvam, por meio dos recursos disponíveis no campo da saúde, o problema de crianças que não correspondem ao desempenho esperado: "Por essa razão não identificam o fonoaudiólogo como profissional também da educação e resistem a propostas que não sejam para diagnosticar e tratar crianças que a escola não consegue dar conta de ensinar", avalia.

Já do lado dos fonoaudiólogos, não há clareza sobre a própria atuação da escola. Para a Ana Paula Berberian, o maior problema está na faculdade: "O fonoaudiólogo não tem formação para atuar em parceria com o professor e contribuir para que a escola cumpra da melhor maneira possível seu papel, ou seja, o de formar leitores e escritores de fato."

Apesar do cenário ainda longe do ideal, as perspectivas para a área são boas, devido ao aumento de pesquisas que subsidiam um trabalho mais crítico em relação à perspectiva clínica e mais focado na melhora educacional de fato. Os profissionais da área ficam esperançosos pelo reconhecimento de sua colaboração na escola. As limitações de grande parte da população estudantil na leitura e escrita reforçam a importância do fonoaudiólogo. Na escola, o trabalho desse profissional, em parceria com o do professor, começa a ganhar amplitude social.

A fonoaudiologia começou na escola

As primeiras iniciativas de consolidação do papel do fonoaudiólogo tiveram sua origem em estados do Sul do Brasil. Entre os anos de 1910 e 1940, com a vinda maciça de imigrantes para o país, cresceram as expectativas de padronizar a língua nacional.

Com o movimento nacionalista, as variações linguísticas eram consideradas patologias e, com isso, diversos profissionais foram inseridos na escola, com o objetivo de sanar as dificuldades que poderiam "impedir o desenvolvimento do Brasil". Quem não seguia a norma culta era encaminhado para educadoras que recebiam uma formação básica para atuarem como ortofonistas (hoje, chamados de fonoaudiólogos), sendo, a prática, desenvolvida conforme cada caso clínico.

Os primeiros estudos de cunho científico precursores da fonoaudiologia escolar foram realizados nos anos 60. Até a década de 70, houve uma transferência da abordagem clínica para a escola, onde o professor ajudava o fonoaudiólogo, pois ele era considerado o agente detector de problemas neste meio.

Até a sua regulamentação no país, na década de 80, a fonoaudiologia conquistou muitos avanços tecnológicos na área da saúde, e sua ligação com a educação deixou de ser o campo de atuação mais conhecido. Apesar disso, a fonoaudiologia escolar continuou a desenvolver-se em paralelo. Hoje são grandes as mudanças na forma de atuação dos profissionais que saem das universidades com a intenção de trabalhar com educação. Não se fala mais tanto em estar na escola para detectar problemas, mas sim para compor a equipe pedagógica.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Obama diz que educação e economia caminham juntos (Danuza Peixoto)

O presidente Barack Obama pediu hoje aos cidadãos americanos que se mobilizem para que os Estados Unidos recuperem a liderança no percentual da população com curso universitário, destacando que a educação está diretamente ligada ao bom desempenho econômico.

"Os países que têm melhor nível de educação hoje são os que vão nos superar amanhã", advertiu Obama em Austin, diante de estudantes da Universidade do Texas.

"O que tento explicar às pessoas é que a educação não é um problema econômico, e 'o problema econômico'" fundamental dos Estados Unidos.

Obama lembrou a reforma do sistema de crédito estudantil realizada por sua administração visando dar maior acesso ao ensino superior. Também insistiu na importância de se fortalecer o papel dos centros de formação profissional para adultos e na necessidade de se apoiar os estudantes para evitar que abandonem seus estudos.

domingo, 8 de agosto de 2010

Sindicato teme vazamento de dados do Enade (Danuza Peixoto)

Depois do vazamento dos dados de 12 milhões de inscritos nas últimas três edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o sindicato que representa as faculdades e universidades particulares de São Paulo volta suas atenções à avaliação de alunos do ensino superior. A preocupação do Semesp é que as mesmas fragilidades apareçam também no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).

O Presidente do Semesp, Hermes Ferreira Figueiredo, afirmou que as consequências de uma falha no sistema podem atingir estudantes e universidades. "Caso ocorra com o Enade um vazamento como esse, há a possibilidade de macular indevidamente uma instituição", diz. O Enade também é organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), assim como o Enem.

O site que disponibiliza as médias das instituições no Enade é considerado frágil. O diretor de uma faculdade de São Paulo especializada em tecnologia explicou que as médias de cada instituição são disponibilizadas em um documento facilmente alterável. "No Enade, é uma tabela simples, um PDF", diz ele, que preferiu não se identificar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sábado, 7 de agosto de 2010

Pais demoram a aceitar que filho é autor de bullying; ouça especialista em adolescentes (Danuza Peixoto)

MARIANA FONTES


O bullying pode ser definido como uma violência física ou moral que ocorre repetidamente entre colegas de uma escola. Casos tornados públicos pela mídia mostram que esse tipo de agressão pode resultar em indenizações e até tragédias.

Quando o adolescente é autor do bullying, os pais demoram a perceber e, consequentemente, a tomar uma atitude a respeito, informa a hebiatra (especialidade médica que atende adolescentes) Maria Dulcinea Oliveira. Ela afirma no podcast abaixo que as consequências para o agressor são tão graves quanto para a vítima.


De acordo com a especialista, muitas vezes o autor do bullying se assemelha ao agredido. "O adolescente tem um comportamento agressivo por insegurança e medo. Ele quer mostrar que tem um status, quer ser o melhor da classe."

A hebiatra alerta que os pais devem estar por dentro do que ocorre na escola e manter um diálogo constante com os filhos para ressaltar a necessidade do respeito ao próximo. Além disso, é preciso supervisionar a vida virtual das crianças e adolescentes, para evitar que a agressão tome dimensões ainda maiores, tornando-se o chamado cyberbullying.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Golpe da venda do diploma faz vítimas na internet(Danuza Peixoto)

JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO

"Eu tinha que mostrar um diploma para o meu pai", conta Ludmila (nome fictício), que há quatro anos saiu de uma cidade de cerca de 25 mil habitantes para cursar pedagogia em São Paulo.

A jovem, no entanto, quer ser atriz. Fez matrícula no curso de pedagogia "em uma faculdade qualquer", mas nunca frequentou as aulas.

A pressão do pai, que tem um escola e queria que a filha tocasse o negócio da família, aumentou ultimamente.

Ludmila, incentivada pelo namorado, tomou uma medida desesperada: entrou no site diplomad.com.br, que promete diplomas de ensino fundamental, médio e superior em até 15 dias.

Ela ligou para um dos telefones que lá estão e conversou com um homem que se identifica como Luis. Envolvida pelo discurso de credibilidade do golpista, enviou seus documentos por e-mail para a suposta emissão do diploma (RG, CPF, histórico escolar e título de eleitor) e depositou R$ 3.600, equivalentes à primeira parcela.

Mas Ludmila não recebeu nem diploma nem seu dinheiro de volta. Após o depósito, o estelionatário parou de atender a suas ligações.

"Eu achei que seria só uma mentirinha boba, porque eu não ia usar o diploma, só mostrar. Nunca imaginei que eu ia me envolver com uma pessoa perigosa. Agora eu tô morrendo de medo do meu pai. Morrendo de medo do que esse cara possa fazer com meus documentos."

Como não pode fazer denúncia à polícia, já que ao tentar comprar o diploma também cometeu um crime, a aspirante a atriz contratou um perito para sofrer o mesmo golpe e rastrear o máximo de informações possíveis sobre o site.

O perito, que também não quer se identificar, diz ter localizado o endereço físico do suposto proprietário do domínio diplomad.com.br. Fica em uma pensão no bairro dos Campos Elíseos, onde a reportagem não encontrou nenhum dos envolvidos.

O GOLPE

A pergunta que se faz nesses casos é: como uma pessoa supostamente esclarecida cai nessa roubada?

Para entender o mecanismo, a reportagem da Folha resolveu "cair no golpe" também --sem depositar o dinheiro. Dessa vez, o pedido era de um diploma de administração de empresas. Segundo Luis, o documento custaria R$ 6.000.


Metade seria depositada em uma conta poupança que, segundo ele, pertence a uma funcionária da Uninove. A outra metade seria paga em dinheiro a um motoboy que levaria o diploma a um endereço indicado pelo "cliente".

A negociação, no entanto, não foi imeadiata. Durou quase duas semanas. Além de enrolar, o golpista usa a tática do vendedor de liquidação, que diz que tal peça é a última do estoque. Ele também não deixa que se escolha a instituição que emitirá o diploma.

Pressionado a passar o número da conta, Luis pedia calma. "Não é assim! Tem que ver se tem vaga em alguma das turmas que se formaram neste ano. Tem que passar por um funil..."

Que funil? Ele não explica. Só diz que o esquema funciona da seguinte maneira: a tal funcionária da Uninove encaixa o nome do comprador em uma turma em que haja vagas de alunos que não se formaram.

Por exemplo, se a turma de administração tinha 40 alunos, e apenas 38 formandos, o falso formando seria encaixado em uma dessas duas vagas remanescentes. No dia seguinte, como num passe de mágica, a vaga aparecia...

Procurada pela reportagem, a Uninove diz que nunca teve nenhuma funcionária ou aluna em seu quadro com o nome fornecido pelo golpista (o nome não é revelado, pois a mulher pode ser outra vítima cujos documentos estão sendo usados pelo golpista).