O fascínio que o professor exerce no comando da sala de aula às vezes transcende o propósito de ensinar. Seja no ensino médio, no cursinho ou na faculdade, é comum encontrar histórias de alunos ou alunas que se apaixonam pelos docentes, apesar do tabu que envolve o tema. O carisma e a simpatia usados para prender a atenção da classe também são características que favorecem o início de namoros, garante o psicólogo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Ailton Amélio da Silva. Para o especialista, esses relacionamentos podem ser problemáticos.
O G1 ouviu histórias de casais em diferentes estados do país que ignoraram as dificuldades e assumiram os relacionamentos.
'Ia ser difícil associar as duas coisas'
Pollyana Reis Gomes, de 21 anos, e Rômulo Assis Gomes, de 32 anos, de Minas Gerais, se conheceram enquanto ela cursava o ensino médio, em Belo Horizonte. Ele foi seu professor de história. Assumiram o namoro em 2007, após a formatura dela, e neste mês vão completar 3 anos de casamento.
Festas da turma e aniversários criaram uma aproximação entre os dois, mas eles garantem que antes da formatura eram apenas amigos. Eles foram juntos ao último encontro da turma e a notícia de que "havia pintado um clima" tinha se espalhado, já que quase tinha rolado um beijo uma semana antes. Mas, se o namoro demorou para engatar, a decisão pelo casamento foi rápida: o pedido veio após um mês do primeiro beijo.
"Eu não teria tomado a iniciativa. Foi no momento que a gente ficou que eu percebi que já gostava dele. Acho que com ele aconteceu a mesma coisa", conta Pollyana.
O casal não teve problemas para assumir a relação para a família, mas Gomes chegou a pensar que poderia ser demitido da escola, o que não aconteceu. Ele não considera que seja antiético professor se envolver com aluno, mas diz que, na profissão, o melhor é não misturar o lado afetivo com o trabalho.
"Se tivesse acontecido quando ainda era professor dela, ia ser difícil associar as duas coisas. Penso que seria difícil manter a relação", diz. Pollyana concorda. "Se ainda fosse aluna dele, seria mais complicado. Acho que a direção iria interferir. Eu não ia gostar que ele me tratasse apenas como aluna. Não ia saber diferenciar, ainda mais porque era muito nova."
'Se precisasse avaliar, pediria para outro professor'
Foi durante uma aula de história que João Samper, de 58 anos, e Sônia Duarte Samper, de 40 anos, se conheceram em um cursinho pré-vestibular em Campo Grande (MS). Estão casados há 13 anos.
“Percebi que tinha uma empatia entre a gente. Eu colecionava selos e moedas, e ela se interessava pelo assunto. Começamos a conversar mais”, conta João.
O namoro começou logo, mas, para evitar problemas, o casal não oficializou a relação no cursinho. “Falei com os pais dela, e assumimos o namoro para a família e amigos. Na escola nossa relação continuava igual, nos tratávamos normalmente, sem demonstrar que estávamos tendo um relacionamento”.
João explica que nunca teve de avaliar Sônia porque ela era aluna do cursinho, que não tem avaliações como provas e notas. “Mas, se eu precisasse avaliar, dar notas, corrigir provas ou trabalhos, pediria para outro professor fazer. Faria isso para garantir uma isenção na avaliação”, confessa.
'Diretor da faculdade foi padrinho de casamento'
Casados há 15 anos, Mauro Lacerda, de 54 anos, e Adriana Lacerda, de 38 anos, contam que souberam separar os papéis quando, em 1994, ele dava aulas para ela durante a faculdade de engenharia, em Curitiba.
“As turmas eram pequenas, de sete ou oito alunos. Isso permitia um diálogo muito grande”, afirma Lacerda.
O casal conta que o anúncio do compromisso foi recebido de maneira natural, tanto por pais, como por alunos e diretores da instituição. “Inclusive um diretor da faculdade foi padrinho de casamento”, lembra Adriana.
A união serviu de incentivo a Adriana, que seguiu carreira acadêmica, a exemplo do marido. “Ele passou por muitas coisas e soube ajudar quando eu passei pelos mesmos problemas. Eu só passei para o concurso da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na quarta tentativa. Ele me incentivava e não deixava desistir.”
Hoje os dois lecionam na mesma instituição, mas mantêm a relação de marido e mulher fora da universidade. “Em sala de aula é professor Mauro e professora Adriana”, diz a ex-aluna.
'Se fosse má aluna, eu a reprovaria'
O namoro de Caio Nogueira Vargas, de 23 anos, e Gabriela Petrocchi Corassa, de 22 anos, começou após eles se conhecerem em um curso de inglês em Vitória (ES). Caio era o professor e os dois se aproximaram, ficaram amigos e Gabriela dava caronas a ele.
Vargas diz que não faltou vontade de chamar Gabriela para sair, mas estava com medo de como isso poderia repercutir na escola. “Como eu sabia que lá havia uma grande rotatividade de professores, imaginei que no período seguinte ela não seria mais minha aluna, então falaria com ela", conta.
Gabriela não esconde que também gostaria de ter sido convidada antes. "É, demorou...", falou, rindo. "A gente sabia daquela coisa ética. Ele não ia fazer nada, porque poderia dar algum problema. Mas a gente já tinha ficado muito amigos, estávamos interessados um no outro."
No começo, segundo o casal, a situação era engraçada. Eles se viam no corredor e tentavam esconder a intimidade. "No início, a gente preferiu não falar nada no curso de inglês”, diz Gabriela. Os dois iam juntos para a aula, mas, quando chegavam, cada um saía para um lado.
O casal acredita que um relacionamento entre aluno e professor pode dar certo. "Você tem que saber separar as coisas. Se ela fosse má aluna, eu a reprovaria", diz Caio.
'Ser professor faz ter um charme especial'
Mayra Scocco , de 20 anos, e o professor de física e matemática, Felipe Keller Ariza, de 25 anos, se conheceram no Cursinho Singular Anglo, em Santo André, no ABC. Mayra trabalha na secretaria e estuda no cursinho e Ariza atua como professor substituto (assista vídeo acima).
Ainda não aconteceu de eles se cruzarem na sala de aula, mas como Azira substitui os docentes que faltam, isto pode ocorrer a qualquer momento. "Desde que eu comecei a namorar, me preparo para esta situação. Acho que ser professor faz a pessoa ter um charme especial, encanta e faz com que as meninas os queiram. Conheço algumas que paqueram professor", diz.
Para Azira, dar aula na classe da namorada não será problema. "Quando o professor sobe no tablado, é professor, não é namorado da menina. Não teria incômodo em dar aula para Mayra."
Os dois não veem problemas no relacionamento entre alunos e professores desde que ambos tenham postura e não confudam os papeis. "O que importa é gostar da pessoa", afirma Azira.
'Pagamos um preço alto'
O professor de matemática Paulo Murillo dos Santos começou a namorar uma aluna em dezembro de 2009, em Brasília. Na época, ele tinha 28 anos e a garota, Beatriz Junqueira Kipnis, que terminava o segundo ano do ensino médio em Goiânia, 16.
Ele conta que já era amigo da menina um ano antes do início do namoro, mas que o casal se aproximou mesmo em outubro, quando ambos passavam por momentos difíceis. “Tínhamos muito em comum, família, ideias, sonhos, vontades”, diz Santos.
O caso foi levado ao diretor do colégio. À direção da escola, o professor disse que não havia envolvimento com a aluna, mas admitiu gostar da garota. “O diretor deixou claro que a escola não admitia esse tipo de relacionamento e disse que confiava em mim. Mas também falou que torcia por nós no futuro.”
Pouco tempo depois, a adolescente contou para os pais que estava apaixonada pelo professor de matemática e então se declarou para Santos. Os dois começaram a namorar, mas sem oficializar o compromisso. O pedido veio em 26 de dezembro, quando foi demitido da escola. A demissão, segundo ele, não teve relação com o namoro.
Em agosto, Santos voltará a ser professor de Beatriz. Ela vai se preparar para o vestibular. O professor diz não saber como vai reagir. “Antes, tudo bem, ela era aluna. Agora não a vejo mais assim. Mas ela é madura e acho que vamos saber lidar com a situação.”
Santos diz não acreditar que esse tipo de relação esteja fadada ao fracasso. “Pagamos um preço alto por isso. Eu quero muito que tudo isso dê certo e acho que ela também”, diz.
'Por parte da minha família não teve problema'
Apesar de ser menos comum, também há casos em que o aluno se apaixona pela professora. Assim como aconteceu com Roger Douglas Dário, de 24 anos, e a namorada – que prefere não se identificar – de 42 anos. Eles namoram há seis anos, e há cinco moram juntos.
Eles se conheceram em 2006, quando ela foi lecionar química na sala do primeiro ano do ensino médio em um colégio em Nova Mutum, a 269 quilômetros de Cuiabá.
Segundo Dário, de imediato houve interesse, mas o relacionamento só começou no ano seguinte. “Eu insisti muito, começamos a namorar, ficamos por muito tempo às escondidas”, afirma. Eles só assumiram o namoro durante a festa de formatura do terceiro ano do ensino médio de Dário, após quase dois anos.
“Por parte da minha família não teve problema, mas em relação aos colegas de trabalho dela, eles ficaram chocados. Principalmente por ela ser 20 anos mais velha do que eu”, conta.
*com textos de Darshany Loyola (ES), Flávia Cristini (MG), Iara Vilela (MT), Fernando Castro (PR), Tatiane Queiroz (MS) e Vanessa Fajardo (SP).
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