sábado, 9 de outubro de 2010

Professor do infantil não é babá (Danuza Peixoto)

Ensinar a crianças pequenas exige do profissional uma boa formação, afinal de contas jardim de infância não é parquinho, pois é lá onde tudo começa

Amanda Tavares
atavares@jc.com.br

Ao pé da letra, a sigla do Enem – Exame Nacional do Ensino Médio – significaria uma análise do desempenho dos estudantes nos três últimos anos da educação básica. Mas, para um bom resultado, são necessários muito mais do que três anos de preparação. Os conhecimentos adquiridos pelos alunos desde os primeiros anos em que frequentam a escola são requisitos primordiais para um bom desempenho nas séries seguintes e, consequentemente, na avaliação. Essas mudanças incentivam escolas, educadores, pais e sociedade em geral a darem a importância devida à educação infantil, que atende a crianças de 0 a 5 anos. Documento publicado pelo Conselho Nacional de Educação, em 2009, determina: “É dever do Estado garantir a oferta de educação infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção”.

Instituições que atendem a esse público deixam, então, de serem observadas apenas como espaços onde as crianças iam brincar. Professoras não mais podem ser vistas apenas como “cuidadoras” dessas crianças, pois exercem a função de educar. É por esses motivos que pais e responsáveis por crianças que começarão a frequentar a escola em breve precisam estar atentos. Antes mesmo de observar o ambiente, deve-se prestar atenção a detalhes como a metodologia adotada e, principalmente, ao nível de preparo dos professores. Da mesma forma que existe uma grande quantidade de escolas que contratam pessoal despreparado, existem outras instituições conscientes do dever de educar e que, por isso, preocupam-se em contratar profissionais competentes e comprometidos.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), não é necessário ter formação superior para ser professor de educação infantil, mas a concorrência acirrada do mercado de trabalho dita que quanto melhor o currículo do professor, mais chances ele tem de entrar numa instituição de ensino de qualidade.

Diretora pedagógica de uma escola de educação infantil e ensino fundamental, Christiana Cruz afirma que todas as professoras da escola em que trabalha possuem, ao menos, graduação. “A maioria delas foi além. Muitas têm pós-graduação”, afirma. Nas escolas públicas municipais, o critério adotado para a contratação de professores é parecido. “Quando há concurso, não podemos exigir, no edital, que os candidatos tenham curso superior. Mas a concorrência é alta e acabam sendo aprovados aqueles candidatos com nível superior. Temos, ainda, a prova de títulos, que beneficia pessoas com currículo mais rico”, explica a técnico-pedagógica da Gerência de Educação Infantil Isleide Carvalho. “Promovemos com frequência cursos de formação para professores. Existe um centro específico para isso, inaugurado em 2009, onde constantemente são realizados os cursos”, garante a diretora-geral de ensino, Lenira Silveira, acrescentando que é constante a realização de parcerias com instituições especializadas em capacitar professores, como as universidades.

Na escola em que a educadora Maristela Muniz coordena a educação infantil, também é requisito básico ter concluído o curso de pedagogia para atuar na educação infantil. Mas ainda há outra exigência: as profissionais precisam ter o sábado livre, pois é um dia reservado para capacitações de professoras. “Em média três sábados por mês a gente recebe profissionais de fora que capacitam as professoras. E também promovemos encontros de capacitação entre os profissionais da escola”, salienta. Além disso, semanalmente a coordenadora se reúne, ao menos uma vez, com cada educadora. “É o momento que temos para avaliar como estão as atividades, o desenvolvimento do planejamento e também observar as necessidades e dificuldades de cada professora”, diz, salientando que professoras interessadas em enriquecer o currículo são incentivadas pela escola. “As que concluem pós-graduação recebem aumento no salário. E as que saem para capacitações, como congressos, têm o nosso apoio, desde que os cursos atendam às necessidades da realidade de cada uma delas”, explica.

Além de atuar como diretora pedagógica de uma escola, Vera Acioli coordena a educação infantil da mesma instituição. Para ela, exigências na qualidade da formação dos professores são necessárias, pois não é fácil realizar a transposição das teorias educacionais à prática na educação infantil. “É preciso ter muito estudo e boa formação. Sentimos essa dificuldade quando precisamos realizar seleção de professores. Por exemplo, aqui na escola trabalhamos com a teoria construtivista. Os professores precisam conhecer essa teoria”, afirma. “Percebemos que muitos professores chegam da universidade carentes de experiências. Aprendem no dia a dia. Uma carência grande que percebemos é em relação à formação cultural. Por isso promovemos passeios a museus, centros culturais, sítios históricos. Ainda assinamos revistas e jornais, não somente da área de educação, mas também de notícias gerais. Deixamos à disposição dos professores”, enumera.

Todas essas características foram observadas pela relações-públicas Renata Oliveira quando foi matricular o filho, Luiz Eduardo, hoje com cinco anos. “Existem várias escolas perto da minha casa, mas estava preocupada em escolher uma de qualidade. “Escolhi uma que tem alto índice de aprovação no vestibular, pois pretendo deixar Luiz Eduardo lá até o final do ensino médio. Observei detalhes como exigência de fardamento, alimentação servida e percebi que as professoras têm boa formação. Acompanhei aulas em vários colégios para observar as metodologias e, numa delas, presenciei a professora dizer: – Tá doido?, com um garoto que esbarrou nela, num momento em que brincava”, afirma. Hoje Renata se diz satisfeita com o desenvolvimento do garoto na instituição escolhida.

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